"Start-up" portuguesa abre filial no Reino Unido para iniciar negócio

Tomorrow Options chamou a atenção da capital de risco pública Inovcapital

A empresa-mãe é criada no Porto, mas o negócio vai nascer no Reino Unido, estando previsto o arranque até ao final do próximo mês de Abril. Em causa está o "Walkinsense", um dispositivo médico que permite avaliar e prevenir os efeitos do pé diabético, doença que afecta cerca de 15% dos diabéticos.

Trata-se do único dispositivo portátil no mundo e, talvez por isso, chamou a atenção da capital de risco do Ministério da Economia e da Inovação. A Inovcapital, que entrou em Julho de 2008 e que investiu até agora 600 mil euros na empresa, assumiu a maioria do capital, com uma posição de 72%.

No entanto, a existência de um acordo parassocial dá o controlo da gestão aos sócios fundadores, alunos do MIETE, Paulo Santos e Catarina Monteiro.

Da estrutura accionista da Tomorrow Options fazem ainda parte o INESC Porto e os dois investigadores, Miguel Velhote Correia e Sérgio Reis Cunha, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

"Estivemos dois anos a desenvolver uma tecnologia, que fomos buscar literalmente à gaveta da Faculdade de Engenharia. Também pelo facto de termos sido os primeiros nesta questão de transferência de tecnologia das universidades para fora, o processo levou mais tempo do que o previsto. Ninguém sabia como se fazia isto. Depois, foram muitas 'tentativas-erro' até se chegar a um produto simples, que as pessoas entendam", conta Paulo Santos, director-geral da empresa.

Agora, as atenções estão também viradas para a "Diabetic Foot Conference 2009" em Los Angeles, nos Estados Unidos, desta quinta-feira a sábado. "Os Estados Unidos também é um mercado que nos interessa", continua. E Portugal? "O prazo médio de pagamento dos hospitais é de 444 dias, era um autêntico suicídio", responde.

No primeiro ano de actividade, considerando o "Walkinsense" um novo produto (para prevenir úlceras), a facturação prevista é de 700 mil euros. Os produtos são desenvolvidos em Portugal, mas a produção faz-se via "outsourcing": partes na China, Espanha e Polónia.

A Tomorrow Options realizou na semana passada o seu terceiro aumento de capital, que praticamente duplicou para 750 mil euros. E o investimento na filial do Reino Unido é de cerca de 180 mil euros.

Com os dois sócios-fundadores e três engenheiros nos quadros, a Tomorrow Options está sediada no UPTEC - Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto.

Premiada entre os grandes como a RAR e a Frezite

A tecnológica portuguesa foi constituída há dois anos e ainda não tem produto no mercado. Mas já está a receber prémios. Foi o que aconteceu na passada quinta-feira, com o embaixador do Reino Unido em Portugal, Alexander Ellis, a atribuir o "Investment Awards" à Tomorrow Options, lado a lado com a RAR, Frezite eAlert.

A UK Trade & Investment, congénere da AICEP, tem distinguido investidores estrangeiros, que no caso da Tomorrow Options criou uma filial em Sheffield, condado de South Yorkshire, para arrancar com o negócio. Paulo Santos, que com Catarina Monteiro, fundou esta "start-up" da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, frisa que "a primeira preocupação foi criar um negócio para fora de Portugal e este nasce no Reino Unido". A escolha da cidade de Sheffield (a quarta mais populosa daquele país) é justificada com o facto de lá estarem os especialistas mais conceituados a nível mundial em matéria de diagnóstico e tratamento da doença da diabetes.

E também porque é uma plataforma estratégica para chegar mais facilmente a outros países. "No Reino Unido levam a sério um conceito chamado diplomacia económica. Em Portugal, é uma área à qual os governos têm estado sensíveis, mas existe alguma dificuldade em captar a atenção dos embaixadores para projectos que estão a começar", critica Paulo Santos.

Mas a Tomorrow Options está apostada em lançar novos produtos - para além do dispositivo "Walkinsense" (prevenção dos efeitos do pé diabético) -, que passam por outras áreas como o desporto, indústria e medicina reabilitativa.

Jornal de Negócios, 16 de Março 2009

16 março 2009