William tinha 19 anos quando, juntamente com o amigo Paul, decidiu fundar a sua primeira empresa. Para trás, ficava o curso de Matemática da Computação na prestigiada universidade de Harvard, que abandonou para perseguir uma aposta arriscada: desenvolver programas informáticos para os novos microcomputadores Altair a um preço mais baixo do que aquele que conseguiam as empresas de “hardware” se fossem elas próprias a concebê-los. O resto da história de William, aliás Bill Gates, toda a gente conhece. A empresa que fundou a Microsoft é hoje a maior e mais conhecida companhia de “software” do mundo e ele um dos homens mais ricos do planeta.
Exemplos como os de Bill Gates são a prova que não existe sucesso empresarial sem risco. Empreender é, antes de mais, uma atitude. Veja-se, por exemplo, o caso de Portugal. Segundo os últimos dados do Eurobarómetro sobre o empreendedorismo, Portugal é o país da Europa onde é maior a apetência por criar o próprio negócio: 62 por cento dos portugueses gostariam de ser patrões de si mesmos, uma percentagem bem acima da média europeia (45 por cento) e até dos Estados Unidos (61 por cento). Contudo, 65 por cento deles admitem nunca ter dado qualquer passo para transformar a ideia num negócio.
Para tentar contrariar esta tendência, as universidades incentivam, cada vez mais, o espírito empreendedor dos seus alunos. A Universidade Nova de Lisboa (UNL), por exemplo, vai promover mais um curso de formação em Empreendedorismo e Valorização do Conhecimento , com o qual pretende dar a conhecer as fases do processo de criação de um novo negócio e contribuir para o desenvolvimento das competências necessárias à implementação e gestão de projectos empresariais assentes na inovação e na excelência . Para além da formação, a universidade apoia os seus estudantes no desenvolvimento de planos de negócio, acesso a financiamentos e gestão da propriedade intelectual, além de promover a aproximação entre os alunos e docentes da universidade e o meio empresarial.
As dificuldades existentes actualmente ao nível das saídas profissionais para os recém-licenciados colocam novos desafios às universidades, O apoio ao empreendedorismo, mais do que a promoção do auto-emprego, funciona para a universidade como um veículo para a criação potencial de postos de trabalho, para os seus estudantes e não só, explica o Pró-Reitor da UNL para o empreendedorismo, Paulo Soares de Pinho.
Esta é também a opinião de Pedro Saraiva, vice-Reitor da Universidade de Coimbra (UC). “É importante que os alunos possam optar, conscientemente, entre trabalhar por conta de outrem ou ousar lançar as suas próprias iniciativas, mais por convicção do que por necessidade ou ausência de alternativas”. O responsável assegura que a UC pode ser a mais antiga universidade do país, mas a inovação e o empreendedorismo são parte integrante do seu genoma.
Para que nada falte aos seus alunos na hora de concretizar uma ideia num negócio, a UC tem lançado um vasto leque de iniciativas, que vão desde a inclusão do empreendedorismo nos currículos à organização de um concurso de ideias de negócio (Arrisca Coimbra 2008), que aceita candidaturas até 15 de Setembro (www.uc.pt/gats).
Pela incubadora de empresas do Instituto Pedro Nunes, umbilicalmente ligada à UC, passaram já mais de uma centena de novas empresas, que se traduziram na criação de perto de 1000 postos de trabalho e num volume anual de facturação superior a 40 milhões de Euros.
Mais a Norte, o fomento do empreendedorismo é também umas das preocupações da Universidade do Minho (UM). Manuel Mota, vice-Reitor da instituição, reconhece que, apesar dos recém-licenciados da UM terem “muito poucas dificuldades em arranjar emprego”, os problemas de empregabilidade são “uma vantagem para o empreendedorismo”. As pessoas, para não saírem (da região), criam empresas. É certo que são empresas vulgarmente chamadas de “lifestyle”, mas que, apesar de tudo, contribuem para o aumento do PIB.
“Não encorajamos grandemente este tipo de empreendedorismo, mas também não o renegamos”. Porque o empreendedorismo é, sobretudo, “uma cultura que deve impregnar a aprendizagem ao longo de todo o curso, a UM tem realizado dezenas de acções por ano que envolvem a comunidade académica, empreendedores, incubadoras e entidades financiadoras, incluindo acções de formação e cursos temáticos de ideias de negócio, o último dos quais, realizado no início deste mês, foi dedicado à biotecnologia e às ciências da vida”. A partir de Outubro, uma dezena de empresas criadas por ex-alunos e docentes da universidade vão ser instaladas na Spinpark, uma incubadora de empresas que teve a sua origem dentro da instituição.
Alguns conselhos fundamentais para transformar uma boa ideia num negócio com perspectivas de sucesso:
1. Agir sempre sabendo que o dinheiro não faz o empresário. Normalmente, o criador de uma empresa é alguém que não tem grande capacidade financeira, mas possui outros recursos como a determinação, a persistência e a criatividade que o levam a triunfar.
2. Estar consciente de que existe uma diferença entre persistência e teimosia. O empresário teimoso responde aos problemas sempre da mesma maneira enquanto o empresário persistente não desiste de encontrar novas alternativas para ultrapassar o problema.
3. Ter visão suficiente para identificar os clientes e as suas necessidades procurando saber se existe um mercado suficientemente grande para gerar lucros, permitir crescimento e diversificação.
4. Reduzir os investimentos iniciais ao indispensável e não gastar recursos em equipamentos supérfluos.
5. Diminuir os custos fixos, eventualmente optando por ter na fase inicial da sua empresa funcionários a tempo parcial e gerindo os recursos humanos em função do crescimento da empresa.
6. Preparar as negociações críticas com fornecedores e investidores, sem nunca se afastar dos pilares em que sustentou a sua ideia de negócio.
7. Saber negociar bem o valor das quotas.
8. Estabelecer as alianças fundamentais para o negócio, abrindo mão de exclusivismos que podem deitar por terra a expansão da empresa. Não queira centrar tudo em si.
9. Olhar para o cliente como se fosse o patrão.
10. Elaborar um bom Plano de Negócio com realismo.
Fonte: Guia do Empreendorismo. Editora Sedes
O movimento de criação de empresas a partir das universidades acelerou nos anos mais recentes.
ISA
Fundação: 1990
Sede: Coimbra
Trabalhadores: 100 (80 em Portugal. 20 no Resto do Mundo)
Área de negócio: Sistemas de telemetria
Facturação: €4 milhões (2007)
Dois anos antes de terminar o curso de Engenharia Física na Universidade do Minho, José Basílio Simões já sabia o que queria fazer quando se licenciasse: formar uma empresa. Foi, por isso, com naturalidade que aos 23 anos fundou, juntamente com outros quatro colegas de curso, a ISA - Instrumentação e Sistemas de Automação com o objectivo de desenvolver, produzir e comercializar sistemas de telemetria.
O primeiro produto desenvolvido foi um sistema para a monitorização dos dados da poluição atmosférica vendido à então Direcção-Geral da Qualidade do Ar. Como na empresa trabalhavam apenas os sócios e dois técnicos em “part-time”, Basílio Simões teve de desempenhar “todas as funções desde a concepção dos equipamentos, a respectiva montagem, programação e teste no laboratório, até à sua instalação e elaboração dos manuais. E ainda as funções de marketing e vendas e da gestão da empresa!”. O esforço compensou.
Hoje a ISA é líder na Europa na área da telemetria, tem clientes como a Galp, a BP ou a Repsol e está presente nos cinco continentes.
MOBICOMP
Fundação: 2000
Sede: Braga
Trabalhadores: 40
Área de negócio: Soluções tecnológicas para terminais móveis
Facturação: €3 milhões (2007)
A história de sucesso da Mobicomp começou a ser escrita em 2000. Carlos Oliveira, então um jovem de 22 anos acabado de concluir o curso de Engenharia Informática e de Sistemas da Universidade do Minho, Juntou-se a três amigos e, com um capital inicial de 5000 euros, decidiu criar numa empresa que aproveitasse o potencial das tecnologias móveis. Criaram um negócio pioneiro, “numa altura em que ainda não se compreendia o potencial transformador da computação móvel”, lembra Oliveira.
Oito anos volvidos, a Mobicomp é um exemplo de como a aposta na inovação pode compensar. Fechou 2007 com uma facturação 100 por cento superior ao ano anterior e pretende dobrar novamente os resultados em 2008.
Entre os clientes contam-se as três operadoras móveis nacionais, empresas como a TV Cabo, a Edimpresa ou a Lusomundo, e muitas outras em países europeus como a Dinamarca, Noruega ou Reino Unido, e do Médio Oriente (Arábia Saudita, Dubai, Israel, Síria e lémen). Entre as suas soluções mais conhecidas estão, por exemplo, a bilheteira móvel desenvolvida para a Lusomundo e o MyTMN, o portal móvel da TMN.
TOMORROW OPTIONS
Fundação: 2007
Sede: Porto
Trabalhadores: 3
Área de negócio: Dispositivos electrónicos
Facturação: n/d
Criada em Fevereiro de 2007, a Tomorrow Options foi a segunda empresa a ser criada no âmbito do Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico da Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Os sócios embrionários da empresa, Catarina Aroso Monteiro e Paulo Ferreira dos Santos, dois dos primeiros alunos a terminar a primeira edição do mestrado (2004-2006), desenvolveram um plano de negócios para comercializar o WalkinSense, um inovador dispositivo médico portátil para a avaliação e prevenção dos efeitos do pé diabético, um problema que, em todo o mundo, leva a amputação de uma extremidade inferior a cada 30 segundos.
O produto começou a ser comercializado no primeiro trimestre deste ano na Europa, Estados Unidos e Canadá a cerca de 2000 euros a unidade, e, até ao final de 2012, os promotores esperam vender pelo menos 20 mil unidades, sobretudo através do comércio electrónico. Cerca de 50 por cento do investimento necessário ao desenvolvimento do projecto foi assegurado pelos dois ex-alunos, o INESC Porto (que adquiriu cerca de 13 por cento do capital da empresa) e pelo financiamento obtido através do Programa NEOTEC, da Agência da Inovação.
CARCRASH
Fundação: 2006
Sede: Lisboa
Trabalhadores: 3
Área de negócio: Reconstituição científica de acidentes
Facturação: n/d
Se aconteceu um acidente, existe uma fórmula matemática para o explicar. Este é o lema da Carcrash, uma start-up de base tecnológica que oferece serviços e produtos de engenharia para a simulação computacional de acidentes rodoviários e de trabalho.
A empresa foi fundada no final de 2006 por quatro alunos e dois docentes do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico com o objectivo de aproveitar “a lacuna existente no mercado português de análise de acidentes, principalmente no sector segurador”, explica Ricardo Carvalho, um dos fundadores da companhia. Com a ajuda de modelos computacionais tridimensionais, os investigadores da Carcrash conseguem calcular velocidades e trajectórias, perceber se um veículo invadiu a faixa contrária, qual a visibilidade existente, se os ocupantes usavam cinto de segurança e outros factores necessários para explicar um acidente.
Um nicho de mercado muito específico, mas promissor: é que os acidentes existirão sempre e muitos deles obrigam as seguradoras a pagar quantias muito elevadas.
Expresso, 28 de Junho de 2008
Texto de Nelson Marques
28 junho 2008
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