Queremos pôr as coisas a funcionar no mesmo sítio para servir as pessoas de forma mais eficaz". O desejo foi formulado pela Profa. Maria João Cardoso, Presidente do Conselho Científico do Centro Mama Help e grande mentora do projecto, no dia do seu lançamento, em Fevereiro, no Porto.
A médica, que é cirurgiã mamaria no Hospital da Trindade e dirige a Cirurgia Mamaria da Unidade de Mama da Fundação Champalimaud, admite que "já existem apoios". De facto, "os grandes hospitais e institutos de Oncologia já têm consultas de Psicologia, começam a ter Acupunctura, têm Nutrição". No entanto, considera que este suporte é dado "de forma despersonalizada".
A própria confessa que sentia há muito a necessidade de uma iniciativa deste tipo. "As pessoas marcam consultas comigo, não para falar da cirurgia, mas para falar de todos os assuntos para os quais elas não têm resposta", contou.
Em seu entender, o suporte dado aos doentes com cancro da mama continua a centrar-se nas repercussões físicas, negligenciando-se outros aspectos, quer por falta de conhecimentos e treino, quer por falta de profissionais formados e integrados nas equipas de tratamento.
Terminando com o vazio quase total nesta área, o novo Centro surge com o objectivo de oferecer "informação e apoio de qualidade de forma integrada", juntando num mesmo espaço físico a Nutrição, a Psicologia, o Aconselhamento Jurídico, o Apoio Social, a Fisioterapia, terapias complementares e grupos de auto-ajuda.
"Nós pretendemos criar, no mesmo sítio, todas essas valências, associando ainda o gabinete de imagem, com a estética e as próteses. Queremos criar um local acolhedor, onde as pessoas se sintam bem", explicou a médica, professora da Faculdade de Medicina do Porto e investigadora do IPATIMUP, do INESC Porto e do CINTESIS, além de membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Senologia e do Conselho Científico da Laço.
E nem só as/os doentes são contempladas/os. Também os familiares, amigos, vizinhos ou colegas de trabalho são bem-vindos, por exemplo, nas sessões de esclarecimento, que estão já programadas.
Pode parecer muito bonito, mas será exequível? Tudo leva a crer que sim. "Um dos truques que poderá fazer com que o projecto funcione é o facto de ser auto-sustentável. Muitos destes projectos aparecem à custa de fundos ou donativos. Estamos numa altura em que isso é difícil de conseguir. Mesmo que seja fácil, inicialmente, é preciso que continue, senão o projecto morre", sublinhou.
No Centro Mama Help, as pessoas irão pagar um determinado valor pelas consultas, de acordo com o seu plano de saúde ou com o seu seguro. "Vamos tentar adaptá-lo ao que as pessoas têm em termos de suporte de subsistemas e vamos ver o que conseguimos fazer pelas pessoas que não têm subsistemas", prometeu.
Desta forma espera-se que o Centro, que não tem fins lucrativos, se auto-financie. Os eventuais proveitos serão aplicados no próprio Centro, com possibilidade de ampliação e crescimento. Este modelo de apoio a doentes está já bem divulgado no Norte da Europa, nos Estados Unidos da América e no Canadá, embora ainda não exista nos países da Europa do Sul e da América do Sul.
A responsável não tem dúvidas: "Este é um modelo que temos de seguir. Os resultados são excelentes. As pessoas sentem que [estes centros] são como uma segunda casa onde podem ir quando não estão bem, quando precisam de um colo, de um carinho ou de um conselho, que não obrigatoriamente médico".
"As mulheres e as respectivas famílias sentem-se extremamente abandonadas"
Também a Dra. Leonor Beleza, ex-Ministra da Saúde e membro do Conselho de Curadores do Mama Help, conhece os resultados do desenvolvimento de iniciativas deste género noutros países. "Há alguma experiência deste tipo de projectos noutros lugares do mundo. Em boa hora as pessoas tomaram a iniciativa de criar no Porto uma entidade que ajuda, fora do meio hospitalar estrito, as mulheres vítimas de cancro da mama a assumirem-se como donas de si próprias e não apenas como vítimas do que lhes está a acontecer", afirmou, em declarações ao NOTÍCIAS MÉDICAS.
Para a Presidente da Fundação Champalimaud, "quando as pessoas recebem uma notícia a que atribuem uma gravidade grande, é importante saberem aquilo por que estão a passar e como podem viver melhor com isso".
A ex-Ministra da Saúde salientou que o projecto é integrado por profissionais que conhecem muito bem a realidade. À forte componente técnica e científica, disse, associam-se outras componentes que, nestas situações, são verdadeiramente vitais.
"As mulheres que passam por isto e as respectivas famílias sentem-se, muitas vezes, extremamente abandonadas, até entre si, porque as pessoas ficam desorientadas. Estas entidades fazem companhia e ajudam as pessoas a lidar melhor com aquilo por que estão a passar", sublinhou.
Como observou a Dra. Leonor Beleza, "esta não é uma questão só para os médicos, para os profissionais de saúde e para os doentes. É uma questão que abrange todos. As pessoas que não passaram por isso compreendem que também se devem envolver". "Não se tenta substituir nada" Já o Dr. André Dourado, biólogo e responsável pela área das terapias alternativas, explicou que o Centro Mama Help quer aplicar o conceito de Medicina integrativa, através da orientação e realização de terapias ditas complementares, sempre a partir do tratamento médico convencional. Como sublinhou, "não se tenta substituir nada". "Nós escolhemos intervir de duas maneiras: de forma individual e em grupo. É importante para estas pacientes sentirem-se apoiadas a todos os níveis. A criação de aulas de Tai chi e de yoga é uma mais-valia porque vai melhorar a condição física das pacientes, mas também a sua auto-estima e vai ajudá-las a encarar os problemas de um outro ponto de vista", assegurou.
Segundo o responsável, estes tratamentos têm como objectivos "reforçar o sistema imunitário, melhorar a resposta à terapêutica, baixar os efeitos secundários e, inclusive, melhorar a eficácia do tratamento convencional".
A intervenção escolhida "teve por base a evidência científica. Escolhemos áreas nas terapêuticas alternativas que têm já evidência comprovada. Escolhemos a acupunctura, a osteopatia e a naturopatia. A homeopatia que vamos utilizar está a ser utilizada em algumas universidades americanas, com publicações, nos últimos dez anos, surpreendentes". De acordo com o responsável, estas evidências existem no cancro da mama e noutros tipos de cancro. De referir que o Mama Help conta com um Conselho Científico e com um Conselho de Curadores de onde constam nomes como Sobrinho Simões, Carvalho Guerra, Carlos Lopes, Raquel Seruca, Rui Mota Cardoso, Margarida Damasceno, Fátima Cardoso, entre outros.
Notícias Médicas, 9 de Março de 2011
10 março 2011
The access to the final selection minute is only available to applicants.
Please check the confirmation e-mail of your application to obtain the access code.